6/05/2017 4:08 pm

Coodenadora do MIQCB fala sobre sua relação com indígenas da etnia Gamela e sobre a resistência do povo

Rosenilde Gregória dos Santos Costa, mais conhecida como Rosa é uma das coordenadoras do MIQCB com atuação junto às mulheres da região de Itaquaritiua onde mora e onde ocorreu o atentado contra os índios Gamelas, no fim de abril, no município de Viana. Rosa já sofreu ameaças de morte em função os trabalhos que desenvolve com as mulheres indígenas quebradeiras de coco babaçu. Ela nos conta sobre a militância nos movimentos sociais e sobre a dificuldade em ser mulher, negra e quebradeira de coco.

MIQCB SITE: Rosa, como teve inicio tua atuação nos movimentos sociais?

Me mudei para Itaperitiua nos anos 1990, em uma data simbólica: no Dia da Consciência Negra. Mas a minha aproximação com a comunidade de Taquaritiua já era antiga, foi no movimento social e sindica em 1986. Eu conheci o povo de Taquaritiua na luta pelo seu território. Meu encontro como pessoa nos movimentos sociais com o povo de Taquaritiua foi na luta pelas aquelas terras. `E muito interessante lembrar disso agora, faz muito tempo. Conheci eles no sindicato, vindo corridos porque havia gente presa. Na época eu era muito nova, ainda no começo nos movimentos já me depara com isso e desde essa época eu conheci os índios de Taquaritiua.

MIQCB SITE: Como você avalia a situação dos Gamelas hoje?

Na época em que me mudei para Taquaritiua ouvíamos muito a questão do “colonizador” dizer que o povo não era mais índio, que eram descendentes dos índios apenas. Mas eles nunca foram outra coisa, sempre foram índios. A gente se articulava com as mulheres indígenas quebradeiras de coco para não deixar perder a identidade da comunidade. No passado, muita gente tirava fotos com os índios por achar “ bonitinhos”, todo mundo queria. Quando os índios passaram a reclamar as suas terras, começou a briga, as discussões e as ameaças. Ninguém quer mais ter índio por perto. E devido a isso a gente tem presenciado todo esse massacre, não pode ser chamado de outra coisa.

MIQCB SITE: Como tem se dado as ações de enfrentamento e resistência pelas terras?

Eu fui diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais nos anos 1990. Sempre tivemos conflito diferentes, sempre abuso dos grileiros e esse grupo de pessoas sempre teve resistência, os índios nunca tiveram outro tipo de apoio. Isso a agente pode dizer, que nunca tiveram apoio de fora. Mas eles sempre lutaram, eles vivem lá naquele povoadinho, naquele pouco de espaço. Lembro que essa fazenda Taruma, onde houve o massacre….

Eu era diretora do sindicato, fomos todas nós, as mulheres quebradeiras de coco, tirar umas fotos. Tinha um pistoleiro, com uma arma em cima de nos. Queríamos tirar fotos do trator derrubando as palmeiras. Fizemos oficio com a denuncia, mandamos pro ITERMA, INCRA, pra saber onde a gente ia conseguir alguma coisa. Mandamos pro IBAMA. Desde essa época ficamos passamos a receber ameaças. O IBAMA foi lá e eu ainda fui no carro do IBAMA. Me deixaram dentro do carro. Consegui ver tantas armas nessa Taruma. Bendita Taruma. E depois um dos homens do IBAMA fez um relatório que não houve devastação. E que foi confirmado com a presença da diretora do sindicato. Eu fiquei morri de tanta raiva. E houve devastação muito grande do guarimanzal. Está me vindo a memória, esse resgate. Já faz muito tempo. Ficamos encurraladas. Anos depois eu me mudei para a comunidade definitivamente. Já tínhamos o trabalho lá com as quebradeiras, a articulação e a luta contra a devastação e pelo acesso aos babaçuais. E quando começamos os trabalhos o MIQCB já estava com a gente. Tínhamos cooperativa, a cantina da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Viana, tinha o pessoal do Taquaritiua , participamos do projetos da Cooperativa, fui presidente da cooperativa. Uma das coisas que a gente fazia era isso, pensar sobre os problemas da terra, do território. Começamos a trabalhar os grupos produtivos com o MIQCB , tínhamos uma associação de mulheres que trabalhava o aproveitamento do babaçu e toda a comunidade fazer uma roca agroecológica. Plantamos feijão sem queimadas e sem veneno e o grupo de produção de azeite construiu a casinha de esteio, pois não tinha madeira, devido a devastação. O primeiro azeite foi resultado de um projeto de 3 mil reais, acessamos pelo Ministério do Meio Ambiente. Dia 11 de novembro de 2004 fizemos nossos primeiros 50 litros de azeite. Foi muita felicidade.

MIQCB SITE: Sobre a coleta do coco para a produção de azeite e outros produtos, como era o acesso e o que mudou de lá para dias atuais?

O acesso aos babaçuais ficou difícil por que a fazenda Taruma foi cercada. Começamos a produção do azeite e tudo ficou pior. A gente tinha denunciado eles pela devastação. E continuamos denunciando todas as vezes que havia derrubada das palmeiras. Mandávamos as denuncias para vários órgãos para ver o que conseguiríamos. Sempre trabalhei como diretora de sindicatos, mas sempre trabalhei como quebradeira de coco. A quebradeira de coco como diretora do sindicato… Era assim que fazíamos o trabalho do MIQCB e com Conselho Nacional dos Seringueiros. Começaram a proibir nossa entrada, pistoleiros armados nas entradas. Ficávamos coletando coco nos pedacinhos de quintais que sobravam. Tentávamos zelar, cuidar das palmeiras que restavam. Quando conseguíamos entrar nas fazendas, entrávamos, coletávamos e produzíamos o azeite. Os projetos do MIQCB ajudaram a melhorar e aumentar a produção e fomos crescendo. Mas o acesso era e ainda é muito restrito e dificulta nosso trabalho, mesmo hoje.

MIQCB SITE: Rosa, como seguir adiante com os projetos sob essa atmosfera de ameaças e obstáculos ao desenvolvimento dos trabalhos com as mulheres quebradeiras de coco babaçu e a manutenção dessa identidade?

Você percebe que as mulheres que vão para o enfrentamento, que resistem são as quebradeiras de coco articuladas com o MIQCB que se empoderaram que fazem as discussões ,que vão para os embates. A gente sabe disso e todas são muito presentes. Há autoafirmação dos indígenas como pertencentes a terra e se juntam as mulheres quebradeiras de coco do MIQCB e as produtoras do artesanato guarimã e isso articulou todo mundo, juntou todo mundo. Não é fácil nunca foi, mas todos vamos continuar na luta.

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