31/05/2017 3:59 pm

Carta final do VI Encontrão da TEIA de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

Foi realizado o VI Encontrão da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais nos dias 25 e 28 de maio na Comunidade Quilombola Alto Bonito, Brejo, região do Baixo Parnaíba, no Maranhão.

A Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão é uma articulação entre indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, ribeirinhos, quebradeiras de coco, sertanejos e geraizeiros em busca do Bem Viver para todos e todas.

Encontros anteriores

Em 2013, em Mangabeira – Santa Helena, compreendemos que uma vara sozinha se quebra fácil, mais se juntar um feixe ninguém pode quebrar.

Em 2014, no Taim – São Luis, ao redor do poço da memória, fizemos a descolonização do saber, do ser e do sentir, e assumimos o Bem Viver como horizonte possível.

Em 2015, no Território do Povo Gamela, Viana, MA, na simbologia da Mandala – compreendemos que cada um de nós é um ponto que se liga a tudo que vive! – afirmamos o sonho do Território Livre.

Ainda em 2015, no Território Quilombola Santa Maria dos Moreira/Bom Jesus, município de Codó, MA, nos encontramos para reafirmar, a partir das experiências das nossas vivências, a urgência em aprofundar a autonomia do próprio processo de organização, gestão e produção.

Em 2016, entre os rios Balsas e Parnaíba, no território da comunidade sertaneja de Forquilha, Benedito Leite – MA, foram denunciadas as ameaças e agressões aos Territórios de vida, causadas pelo modelo de desenvolvimento baseado nos projetos do capital, nossas vidas não cabem nos seus mapas.

Ao final do Encontro, foi elaborada a carta Final e a Moção de Repúdio que pode ser acessada na íntegra:

VI ENCONTRÃO DA TEIA DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MARANHÃO, Território Quilombola Alto Bonito, 25 a 28 de maio de 2017.

DOCUMENTO FINAL

“NÃO ESTAMOS EXTINTOS. ESTAMOS DE PÉ, EM LUTA. ESTA TERRA É NOSSA!

Nós, povos indígenas Akroá Gamella, Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe da Bahia, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiros do Acre, com o apoio solidário e militante da Comissão Pastoral da Terra/CPT, do Conselho Indigenista Missionário/CIMI, do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco/MIQCB, Irmãs de Notre Dame, Movimento de Comunidades Populares/MCP, Teia de Povos da Bahia, Diocese de Brejo, Núcleo de Estudos e Pesquisa em questão Agrária/NERA, CSP Conlutas, Coletivo Nódua, Centro de Defesa de Açailândia, Grupo de Estudo em Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente/GEDMMA, Núcleo de Estudos Geográficos/UFMA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/Campus Pinheiro, Rede de Agroecologia do Maranhão/RAMA, nos reunimos no território quilombola Alto Bonito, Brejo/MA, nos dias 25 a 28 de maio de 2017, para o VI Encontro da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.

Bebendo da experiência dos seringueiros de Xapuri (Acre), dos povos da Bahia, e dos muitos relatos da nossa gente, afirmamos a nossa autonomia na segurança, na educação, na produção, na autogestão e no Bem Viver!

Denunciamos o modelo de desenvolvimento que tem se perpetuado no Brasil, explorador e concentrador de riquezas que, para alcançar o máximo de exploração da natureza precisa negar nossa existência, nossa cultura e nossos modos de vida, atuando violentamente no extermínio de povos e comunidades, como ocorrera com camponeses em Colniza no Mato Grosso, com o Povo Akroá-Gamella no Maranhão e com os camponeses em Pau D’árco, no Pará.

Reafirmamos a luta no enfrentamento com o agro-hidro-minero-negócio, o Parque Eólico nos Lençóis Maranhenses, gaúchos, fazendeiros, madeireiros, empresas nacionais e internacionais (mineradora Vale, Suzano Papel e Celulose S. A., WPR Gestão de Portos e Logísticas de São Luís, WTorre, Grupo Maratá, Grupo FC Oliveira, e outras). Nossos inimigos contam o aparato do Estado brasileiro, tais como o Executivo, Legislativo e Judiciário, o ICMBio, em todas suas esferas, além do braço armado do Estado – Polícia Militar, Civil e Federal -, que historicamente são instrumentos de repressão de nossos povos e a criminalização de nossas lutas, além da uso permanente de jagunços e pistoleiros.

Reafirmamos os princípios do Bem Viver, que passa pela retomada dos nossos territórios, da nossa autonomia, pela garantia da soberania alimentar, manutenção da nossa cultura e modo de vida.

Nossa força vem dos encantados, vem dos nossos antepassados, vem dos nossos mártires, de sentir a força da mãe-terra quando pisamos em nosso chão. É uma força que jamais será silenciada, que permanece sempre viva quando nos encontramos e nos sentimos.

A partilha das experiências de insurgências alimenta o nosso espírito e reafirma a luta pela terra e pelo território e os laços entre povos estabelece novos vínculos históricos de resistência.

Esse governo que está destruindo o Brasil não nos representa! Fora Temer! Fora todos eles!

ESTA TERRA TEM DONO! (Sepé Tiaraju)

Quilombo Alto Bonito, Brejo dos Maypurá, 28 de maio de 2017.

VI Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.

Quilombo de Alto Bonito, município de Brejo/MA, 25 a 28 de maio de 2017.

Tema: “Não estamos extintos. Estamos de pé, em luta. Esta terra é nossa!

MOÇÃO DE REPÚDIO

Um grito contra o massacre no Pará, um canto para nossos mártires

Nós, povos e comunidades tradicionais reunidos neste encontro, manifestamos nossa indignação e repúdio ao massacre que derrubaram dez trabalhadores, podendo aumentar este número pois feriu gravemente mais 18 camponeses e camponesas, ocorrido no dia 24 de maio, fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco, no estado do Pará, executado pela Polícia Militar do governo de Simão Jatene, do PSDB. Este mesmo partido, em 1996 comandou o massacre em Eldorados dos Carajás no Pará, que assassinou 19 sem terras.

Esse ataque se insere numa sequência de massacres cometidos pelo Estado Brasileiro contra os nossos povos e comunidades tradicionais. Uma trágica história que se repete no nosso dia a dia, numa tentativa de silenciar a nossa história.

Todo sangue já derramado de nossos irmãos e irmãs permanecem em nossa memória alimentando nossa luta. Cada vez que um de nós cai muitos outros se levantam. A nossa força sobrevive para além da brutalidade da bala contra nossos povos.

Diante dessa barbárie, nós, povos e comunidades tradicionais, exigimos do Estado a punição dos policiais e latifundiários envolvidos; o apoio aos familiares que perderam seus entes queridos; a regularização da terra aos camponeses para evitar que massacres como esses continuem acontecendo.

“Maldita toda violência que destrói a vida pela repressão”.

Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

Teia de Povos da Bahia

Teia dos Povos da Bahia

(Fonte: Organização do VI Encontrão Imagens: Natty Borges)

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