Escolas em péssimas condições estruturais, desrespeito ao ensino quilombola dentro da grade curricular, merenda escolar à base de sucos artificiais e falta de transporte escolar adequado para levar crianças e adolescentes às escolas. É o cenário caótico vivenciado, por no mínimo, sete comunidades de quebradeiras de coco babaçu e quilombolas do município de Cajari, na Baixada Maranhense. Um dos municípios incluídos no programa + IDIH, com índice de Desenvolvimento Humano considerado abaixo dos padrões.
O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará Piauí e Tocantins organizou reunião com representantes do Governo do Estado e da Prefeitura de Cajari. O objetivo foi denunciar e cobrar providências às autoridades competentes sobre o descaso que envolve a educação no município. Representantes do Governo, por meio das Secretarias de Educação, Direitos Humanos e Participação Popular enviaram representantes de São Luís. Todos receberam o documento, assinaram e se prontificaram a tomar as providências.
Os representantes da Prefeitura e Secretaria de Educação de Cajari, mesmo estando na cidade, alegaram que o documento enviado pelo MIQCB não foi suficiente para convencê-los a participarem da reunião. No documento, indicava que a reunião era para tratar sobre a Educação no município. Fato que não impediu do grupo de quebradeiras de coco babaçu ocuparem a Prefeitura de Cajari e somente saírem após a entrega do documento à secretária de Educação do município.
“O que escutamos e sentimos nas reuniões com as crianças e adolescentes das comunidades de quebradeiras de coco babaçu e quilombolas é revoltante. Providencias urgentes têm que ser tomadas para que esse cenário seja revertido”, enfatizou Rosa Gregória, coordenadora do MIQCB na região da Baixada Maranhense.
Dificuldades no Transporte Escolar
O MIQCB, por meio do programa Vínculos Solidário coordenado pela ActionAid, realizou um trabalho com crianças e adolescentes sobre a percepção que elas tinham sobre os desafios da educação em Cajari. O retorno, por meio de diálogos e desenhos, resultou em um documento produzido pelo MIQCB e entregue a Secretaria de Educação e Direitos Humanos do Estado e Prefeitura de Cajari.
Em 2015, por meio do MIQCB e os parceiros internacionais, a Prefeitura de Cajari recebeu do Governo do Estado uma lancha para o transporte escolar de comunidades mais distantes como: Bela Vista, Santa Severa. Capaputiua e Ladeira. O acordo era que o percurso da lancha contemplasse essas comunidades quilombolas e de quebradeiras de coco babaçu. Acontece que em dois anos, a lancha transportou nenhum estudante dessas comunidades. O trajeto realizado diariamente abrange somente duas comunidades bem próximas à sede do município.
O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), atua no Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, com o apoio da União Europeia. As ações são direcionadas para o fortalecimento da luta pela existência e implementações das políticas públicas que assegurem e resguardem os direitos das comunidades e povos e tradicionais como as quebradeiras de coco babaçu.
“Será que terá que acontecer outro acidente e matar mais seis pessoas da mesma família e estudantes para que tomem alguma providência?” questionou Gilvânia Cutrim Padilha, 16 anos, moradora do quilombo Camaputiua. Ela é estudante do ensino médio e diariamente se desloca com outros quatro alunos em uma canoa pequena para o município vizinho para ir a escola. A mãe, Maria do Socorro Cutrim, fica apreensiva a cada temporal e ventos mais fortes, desabafou, além de pagar cerca de R$ 150,00 mensais pelo deslocamento inseguro da filha até a escola. “Mas se não assim, ela não tem como estudar e garantir uma vida melhor”, enfatizou.
Na mesma comunidade, a escola para o ensino fundamental apresenta goteiras e o forro ameaça a cair em cima das crianças, além de não comportar todas as series. Situação triste também no quilombo Bela Vista, onde a escola funciona em casa de barro e taipa e merenda escolar é servida a base de suco industrializado e biscoito salgado. No quilombo Santa Severa, como a escola não contempla todos os alunos, parte deles assistem aula em um prédio da igreja com a presença dos morcegos. “Os próprios alunos são obrigados a limparem o ambiente para não sentarem em local sujo”, desabafou Maria Antônia dos Santos, coordenadora do MIQCB na região da Baixada.
De uma maneira geral as escolas nessas comunidades estão em péssimo estado de conservação.
Bela Vista – Não existe escola apropriada, a estrutura é uma casa de barro e taipa. As paredes estão rachadas, sem nenhum tipo de higiene. Merenda escolar servida com nescau, suco industrializado e biscoito salgado.
Santa Severo – a escola devido não acomodar todos os alunos está péssimas condições com crateras em frente a unidade e parte dos alunos estudando cm um anexo da igreja com presença de morcegos. Para sentarem-se no ambiente, os próprios alunos fazem a limpeza.
Bacuri – mais de 18 estudantes que cursam o quarto ano do nono ano precisam se deslocar mais de 4 km a pé enfrentando lama e com as chuvas, fica impossível manter uma frequência contínua.
Camaputia, Ladeira e Alegre, a merenda escolar é de péssima qualidade.
Em todas essas comunidades inexiste o serviço do transporte escolar para os alunos do Ensino Médio. Muitos se arriscam indo de canoa da própria família, pois, a lancha cedida pelo Governo do Estado para a Prefeitura de Cajari não está disponível devido à falta de combustível.
MIQCB
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