O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) enviou uma comitiva de juventudes para a Conferência Climática Regional de Juventudes Latinoamericanas (RCOY). Duas atividades foram propostas e aceitas; a primeira levou a temática sobre Racismo Ambiental e foi conduzida inteiramente pelos jovens do Movimento; a segunda foi compartilhada com os estudantes do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), da Universidade Federal do Pará (UFPA), com o objetivo de discutir ações e impactos positivos nas comunidades tradicionais de diferentes segmentos.
A comitiva jovem do MIQCB esteve em Belém do Pará por 5 dias. Acompanhados pela Secretária de Juventudes do MIQCB, Maria José Silva, pela Coordenadora Pedagógica do Centro de Formação das Quebradeiras de Coco Babaçu, Ana Maria Ferreira, e assessorias técnicas. Apesar da presença dessa equipe, as juventudes estiveram inteiramente responsáveis pelas atividades propostas.
Na oportunidade, as juventudes também aprenderam a planejar cobertura de comunicação, produção de entrevistas e reportagens, noções básicas de cuidados com os equipamentos de comunicação, técnicas de captação e captura de imagens, além de técnicas de entrevistas e reportagens. Esse acompanhamento faz parte do Planejamento Estratégico do MIQCB em capacitar as juventudes para a criação e articulação da Rede de Jovens Comunicadores.
Para Ana Maria, a atuação da equipe e das juventudes no RCOY foi excelente. “Todos estavam ativos, aqueles que não estavam na apresentação e coordenação da atividade estavam entrevistando e produzindo vídeos para publicação”. O Centro de Formação já defende e atua com base na educação contextualizada desde a sua criação, estender esse propósito para as atividades que as juventudes formadas estarão envolvidas reforça o compromisso que o MIQCB tem feito com as juventudes.
O encerramento, que aconteceu no Teatro Maria Sylvia Nunes, em Belém. As juventudes latinoamericanas e caribenhas entregaram uma carta às autoridades que foi construída em conjunto nas plenárias. Representantes de entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), receberam o documento que norteia o que a juventude latina e caribenha espera das autoridades. O combinado é que, por meio dessas organizações que atuam em nível internacional, as demandas sejam ouvidas pelos chefes de estado que compõem as cúpulas, inclusive que estarão presentes na Conference of the Parties (COP 30).
Para finalizar, as juventudes latinocaribenhas homenagearam o indígena caiapó Raoni Metuktire, carinhosamente chamado pelos jovens indígenas de vovô Raoni. Ele recebeu o Prêmio Cacique Nobel da Paz das mãos das juventudes de povos e comunidades tradicionais como símbolo de sua força e resiliência para reafirmar a aliança entre as gerações nas lutas pela floresta.
A secretária das Juventudes do MIQCB, Maria José Silva, agradeceu o compromisso e empenho dessas pindobas que levaram a luta das coringas e capotas para a Latinoamérica. “Estão de parabéns pelo trabalho e comprometimento com o Movimento e com o RCOY. A expectativa é de construir um futuro, mas esses jovens já mostram que são capazes de contribuir com o presente”, completou ela.
Roda de Conversa
O primeiro dia de atividades foi reservado para alinhamento com os estudantes do INEAF. Até a chegada do MIQCB em Belém, os dois grupos ainda não se conheciam, o contato foi feito pela internet. O encontro aconteceu no prédio do Instituto, ambos os grupos puderam alinhar como seria a dinâmica da roda de conversa que tinha a intenção de promover o diálogo sobre as ações e impactos positivos nas comunidades tradicionais de diferentes territórios.
A escolha dos convidados para compor a discussão partiu do princípio de que as juventudes gostariam de trocar experiências com pessoas de segmentos e territórios diferentes. Por isso, como representante das quebradeiras de coco babaçu, Girlane Belfort Mendes, jovem e coordenadora de base da Regional Baixada; a estudante do INEAF Ilma Vale falou sobre sua experiência como quilombola da Comunidade Remanescente de Sucurijuquara, em Mosqueiro, Belém do Pará; Pivide Kumaru contribuiu como indígena do povo Kumaruara da região do Baixo-tapajós, oeste do Pará; e Silvia Teixeira foi convidada para contribuir como pesquisadora por ter realizado um trabalho junto às quebradeiras de coco na comunidade Samaúma do Japão em Vitória do Mearim, no Maranhão.
A Roda de Conversa aconteceu no auditório da Usina da Paz – Jurunas, em Belém do Pará. Cada representante pôde falar sobre as experiências nos seus territórios que podem servir de exemplo para outros espaços. Valter, por exemplo, contou como a organização da comunidade em torno dos trabalhos em comunicação tem gerado bons resultados. “Nós percebemos que comunicar possui diferentes formas e formatos. Nossa comunidade passou a criar diálogos em diferentes espaços e passou a alcançar mais pessoas. Nós já temos uma rádio comunitária ativa, que envolve, inclusive, as juventudes”, disse ele.
A jovem indígena Thaís Pitaguary foi ao RCOY como representante do Núcleo de Cidadania de Adolescentes do United Nations International Children’s Emergency Fund (Unicef) e participou da Roda de Conversa. Para ela, o maior impacto positivo no seu território é a conservação. “Sou de um povo indígena que tem uma das maiores áreas de preservação. Nós consideramos que a preservação da fauna e da flora é a ação mais importante para a vida do nosso povo e da nossa aldeia”.
Racismo Ambiental
A maneira disruptiva que as juventudes escolheram para a palestra envolveu e encantou os participantes. Coordenada e produzida em conjunto, a apresentação também seguiu o mesmo padrão. Valéria Maria Lima Silva, que mora na comunidade Ponta de Pedra em São João do Araguaia, no Pará, abriu a discussão questionando ao público qual o entendimento que cada um tinha sobre o Racismo Ambiental.
Ao inverter a ordem do cerimonial, abrir ao público antes de iniciar a narrativa, as juventudes puderam oportunizar que o público escolhesse o tom da atividade. Muitas pessoas acompanharam essa atividade, a sala estava abarrotada de olhares de interesse e mãos que se levantavam pedindo participação.
Na sequência, as juventudes do MIQCB distribuíram fotos impressas para mostrar ao público presente quais são os principais impactos do Racismo Ambiental em seus territórios. Algumas facilmente identificadas, como o lixão em Taquaritiua, na Baixada Maranhense. Outras precisaram de contexto, como o caso de imagens que retratam a falta de energia que é um direito cidadão no Brasil, mas não é garantida integralmente.
Depois das duas intervenções é que o tema do Racismo Ambiental foi tratado no formato de palestra. A coordenadora de base do MIQCB Regional Baixada Girlane Belfort explanou sobre os conceitos, impactos e desafios para mitigar o Racismo Ambiental por meio da atuação coletiva nas comunidades. “Nós lidamos com todas as consequências, por isso é crucial realizar o letramento das nossas populações. Somos nós que precisamos nos organizar para nos proteger”.
A atuação das juventudes surpreendeu Neia Limeira, que estava no RCOY como representante da Oxford Committe for Famine Relief no Brasil (OXFAM Brasil). “As juventudes estão de parabéns. Elas se desafiaram para contribuir com a programação ao propor essa palestra e fizeram isso com estratégia e leveza. Fico feliz em acompanhar a atuação desses jovens do MIQCB”, declarou Neia.
Oficina da ONU
A representante da OXFAM, Neia Limeira, convidou a comitiva do MIQCB para participar da Oficina Diálogo das Relatorias da ONU para Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Direitos Humanos com a Academia e Sociedade Civil, que foi realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com apoio da Unicef Brasil e do Instituto Alana.
A oficina foi dividida em dois momentos: primeiro uma explicação do trabalho que as relatoras da ONU desenvolvem em suas relatorias para mostrar como os chefes de estado podem atuar em relação aos direitos humanos e mudanças climáticas nos territórios a partir da oitiva com as comunidades; o segundo propôs dividir as juventudes presentes em grupos diversos para atuarem nas temáticas específicas sobre territórios, legislações, juventudes e atuações locais.
A relatora Elisa Morgera veio da Escócia, onde mora, para participar desse momento e acrescentou que seu trabalho é evidenciar as prioridades de mitigação e prevenção às mudanças climáticas para os chefes de estado. “Por isso o diálogo é tão importante, porque o que ouvimos das juventudes aqui delimitam as suas experiências com seus territórios, daí nós podemos tirar as boas ideias que levaremos para os espaços de decisões internacionais”. Como relatora ela acessa lugares como a COP 16 e 30, um exemplo para entender como podem atuar em nome das juventudes.
O momento prático contou com a contribuição direta dos jovens participantes. Eles foram separados em grupos por tema de interesse. A equipe realizadora da oficina distribuiu temas que as relatoras atuam em cartazes nas paredes. Cada participante deveria escolher o eixo que mais te interessava. Depois, agrupados, puderam discutir os eixos de sua escolha para apresentar sugestões e complementações sobre os temas.
O jovem Isaías Trindade, morador de Vila Nova dos Martírios (MA), formou dupla com Anarés Acosta, que veio da Colômbia para o RCOY, para discutir sobre as políticas públicas para as juventudes como dever do Estado. Os dois utilizaram o Google Tradutor para possibilitar a comunicação e construção desse eixo temático. A apresentação foi completa, em português e em espanhol.
Depois de todos os grupos apresentados, em uma reunião interna com parceiros da OXFAM, com presença das relatoras da ONU, o documentário Tem Floresta em Pé, Tem Mulher foi exibido e as juventudes do MIQCB puderam apresentar o MIQCB, a Cooperativa Interestadual das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB), o Centro de Formação das Quebradeiras de Coco Babaçu (CFQCB) e a Rede de Jovens Comunicadores, além do trabalho diário das nossas guardiãs das palmeiras em suas comunidades e territórios.
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