16/01/2025 7:39 pm

Monitoramento Final do Projeto Floresta de Babaçu em Pé reúne três regionais em Imperatriz

O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) realizou o Monitoramento Final do Projeto Floresta de Babaçu em Pé nos últimos dias 13 e 14 de janeiro em Imperatriz, Maranhão. Na oportunidade, coordenadoras de base, quebradeiras de coco, assessorias internas e representantes das juventudes das Regionais Imperatriz, Pará e Tocantins avaliaram as ações protagonizadas nos últimos anos.

O Projeto Floresta possui três componentes centrais: o fortalecimento institucional, o Centro de Formação das Quebradeiras de Coco Babaçu (CFQCB) e o Fundo Babaçu. Todos foram avaliados de forma quantitativa, por meio dos dados produzidos pelos relatórios das ações; e qualitativamente com o apoio da Enraíze Soluções, uma Consultoria contratada para construir o relatório contendo os depoimentos de todos os agentes envolvidos no processo de execução do Projeto, inclusive dos participantes dessa última avaliação.

O Monitoramento Final foi dividido em 2 dias. Iniciado pela apresentação dos dados qualitativos organizados pela Coordenação do Projeto em conjunto com os números alcançados pelo Centro de Formação. Depois foi a vez da Secretaria do Fundo Babaçu apresentar seus indicadores.

Os resultados apontam que este projeto foi concluído de maneira honrosa, como descreve a coordenadora pedagógica do CFQCB Ana Maria Ferreira. Ela acredita que foi a construção coletiva que gerou o impacto mais positivo, que destacou a atuação da equipe e possibilitou bons indicadores.

“Esse momento é muito importante poque é parte integrante do Projeto, serve para se ter certeza de que todas as ações previstas foram executadas a altura. É momento de caminhar pela retrospectiva para produzir um prognóstico. O que podemos dizer é que foi, de fato, uma construção coletiva. Cada pessoa contribuiu com a sua especificidade para um resultado comum”, como concluiu Ana Maria.

E não é só isso. O Projeto contribui tanto para o desenvolvimento político das quebradeiras de coco babaçu quanto para a Cooperativa das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB), é o que explica a diretora da CIMQCB Raimunda Nonata Bizerra de Oliveira.

“O projeto oferece formas diversas de organização das quebradeiras que também atuam na Cooperativa. Apesar de estar ligada diretamente às questões econômicas e de presença no mercado, as sócias também precisam fazer o trabalho político de valorização da CIMQCB dentro e fora das comunidades. É uma disputa de narrativa que os estudos oferecidos pelo Centro de Formação, por exemplo, ajudam a realizar”, destacou a diretora.

Segundo a coordenadora do Projeto Floresta de Babaçu em Pé Anny Linhares, desde a retomada das atividades do Fundo Amazônia já foram lançados mais 5 editais que contemplaram dezenas de comunidades. Isso fortalece a atuação das quebradeiras e cria vínculos com parceiros importantes.

“São mais de 2 milhões de reais investidos. Atualmente estamos com 30 projetinhos em fase de execução nos quatro estados de atuação do MIQCB. Foi esse investimento que possibilitou, inclusive, atividades de intercâmbio entre as quebradeiras de diferentes comunidades. É uma conquista muito importante que agrega muito para o Movimento, além de dialogar indiretamente com outros projetos e alcançar comunidades extrativistas que não necessariamente são de quebradeiras, mas que geram impactos positivos na atuação delas nos territórios”, resumiu Anny.

A ideia agora é ampliar a atuação do CFQCB, nas deliberações do Monitoramento Final do Projeto Floresta foi indicado caminhos para o futuro, dentre eles está a oferta de minicursos específicos nas comunidades.

Todos os dados do Relatório Final do Projeto serão encaminhados para análise do Comitê Gestor, somente depois de aprovado é que o documento ficará disponível à apreciação pública no site do Fundo Amazônia.

O Projeto Floresta de Babaçu em Pé existe desde 2018, foi interrompido durante o período da pandemia e retomado em 2023, ocasião em que o Centro de Formação foi inaugurado em São Luís do Maranhão. Financiado pelo Bando Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Fundo Amazônia; o projeto sustenta o Fundo Babaçu, que é alimentado também pelo Projeto Baqueli, financiado pela Ford Foundation; todos atuam de forma conjunta por meio do trabalho do MIQCB.

Centro de Formação

O momento dedicado ao Centro de Formação envolveu o público, a maioria dos participantes do Monitoramento Final foram formados pelo CFQCB. A quebradeira de coco de Imperatriz Maria de Nazaré Coelho compartilhou sua experiência com entusiasmo.

“Nunca imaginei que as quebradeiras de coco pudessem chegar a esse ponto. Lá no Centro de Formação conheci outras mulheres que quebram o coco como eu, recebi até um apelido carinhoso que amei muito, Mazita, agora quero que todos me chamem assim”, contou ela.

O Centro de Formação é motivo de muito orgulho, até mesmo para a equipe envolvida nos bastidores, que trabalham para tornar possível o sonho das quebradeiras. Elizete Araujo, que é assessora de campo da Regional Tocantins, disse que acompanha os resultados do Centro na prática.

“A gente vê a diferença de como a pessoa era antes de ir para as aulas e como estão agora, muitas dessas mulheres sequer falavam em público, agora protagonizam debate dentro e fora de suas comunidades. Isso é muito bom. É muito gratificante, vocês não imaginam o quanto. Hoje, nosso sonho é que outras pessoas possam viver essa oportunidade”, testemunhou Elizete.

O Centro de Formação atende uma demanda específica que a Educação formal não consegue atingir: oferece a Educação Contextualizada à realidade das quebradeiras. O curso oferecido para as mulheres e para as juventudes tem foco na valorização das atividades extrativistas.

Oferecer o ponto de vista da quebradeira significa atuar em favor da identidade sociocultural dessas mulheres. O olhar da sociedade sobre o que elas vivem é repleto de preconceitos, por isso a Educação Contextualizada é tão importante. A valorização da luta social travada por décadas deve ser visitada, estudada e lembrada. Se não é feito pela educação formal, que seja pela própria quebradeira, este é o lema de criação do CFQCB.

A jovem estudante Amanda Xavier, formada pelo Centro de Formação, destacou que a experiência é enriquecedora. “Encontrei a minha identidade valorizada e tive apoio para me soltar e conversar com as pessoas. Hoje, tenho mais facilidade para falar sobre o movimento, até mesmo para ministrar oficinas no grupo de jovens da minha comunidade”.

Foram dois anos de atuação com 98 formados, duas turmas de mulheres e outras duas de jovens. Mais de 400 horas aula trabalhadas em cada turma, divididas em tempo escola e tempo comunidade. Mais de 60 comunidades em 36 municípios foram contemplados.

A experiência da coordenadora de base da Regional Pará Maria de Fátima Rodrigues foi dupla: ela foi aluna e monitora do Centro de Formação, isso porque as turmas voltadas para as juventudes receberam a contribuição das quebradeiras, afinal, são mestres da própria história.

“Como aluna, a vivência foi muito rica porque eu pude ter mais conhecimento em relação a elaboração de projetos. Aprendi a valorizar mais nossos sonhos enquanto quebradeira com essa oportunidade, pude estudar a história daquelas que estão na luta desde o começo, eu só tenho a agradecer. Depois, fiz parte da equipe de monitoras da primeira e da segunda turma de jovens, e foi maravilhoso poder construir uma boa relação com a juventude”.

O MIQCB quer investir no pacto geracional. Desde o último Planejamento Estratégico, as Juventudes se tornaram um eixo de atuação institucional. Esse compromisso de incluir as juventudes nos espaços de discussão, produção e decisão está evidenciado também na atuação do Centro de Formação. “A gente se formou na luta fazendo a luta, agora nós queremos oferecer às juventudes aquilo que a nós foi negado”, como sintetiza a coordenadora-geral do MIQCB Maria Alaídes.

Fundo Babaçu

Ainda no primeiro dia, a tarde foi dedicada a ouvir os resultados do Fundo Babaçu. A secretária do Fundo, Priscila Aguiar, apresentou indicadores e explicou os processos para concorrer ao 10º Edital que está aberto.

O Edital pode ser consultado aqui no site e oferece financiamento para entidades de representação popular e comunitária. A ideia é redistribuir o repasse de forma a atender pequenos projetos que atuem diretamente nas comunidades.

Para Priscila, a distribuição do recurso para entidades locais representa um compromisso efetivo com os territórios onde estão situadas as quebradeiras de coco babaçu. “A divulgação das oportunidades oferecidas pelo Fundo é uma constante para nós, o que queremos é que as comunidades se desenvolvam a partir do próprio olhar, e a redistribuição desse recurso fomenta isso”.

Outras duas modalidades para acessar o financiamento do Fundo foram trabalhadas. A carta convite, quando o MIQCB propõe a parceria; e a demanda espontânea, quando as entidades buscam a parceria com o MIQCB.

A oportunidade também serviu para apresentar o Projeto Baqueli, outra iniciativa do MIQCB que também apoia ações locais com o objetivo avançar na garantia de acesso e uso de babaçuais, visando o cumprimento de direitos territoriais de comunidades tradicionais, em termos ambientais, culturais e fundiários, incidindo no cumprimento das obrigações legais do Estado, através de ações promovidas por mulheres quebradeiras de coco babaçu, em terras públicas, privadas por elas tradicionalmente ocupadas no Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará.

Enraíze Soluções

A tarefa de construir o relatório qualitativo do Projeto Floresta ficou sob responsabilidade da Enraíze Soluções, uma empresa de Consultoria focada em facilitar momentos de acepção e reporte de dados subjetivos para a avaliação de projetos.

A consultora Ana Carolina Magalhães Mendes liderou o segundo dia com explicações sobre a importância do monitoramento, apresentou a retrospectiva das ações do projeto e propôs uma leitura do relatório final para apreciação do que já se havia construído até então.

O monitoramento oferece uma visão geral do projeto, por isso é tão importante incluir a visão qualitativa, até porque as ações são destinadas às pessoas.

A leitura do relatório aconteceu em grupos, cada Regional do MIQCB pôde analisar e construir aprovações, alterações e implementações que ainda não estavam presentes no documento. Munidas de informações apresentadas anteriormente, além dos resgates da memória de ações já documentadas, os participantes também apresentaram propostas para a continuidade dos componentes centrais.

Isso porque as quebradeiras querem continuar com essas ações que geraram tantos resultados positivos. Para quem está na luta desde o início, valeu a pena cada passo dessa trajetória, como é o caso de Francisca Vieira, coordenadora de base da Regional Tocantins, uma das fundadoras do Movimento.

“Foi muita discussão para criar esse Fundo e esse Projeto. A nossa intenção era nos manter caminhado e ajudar as pequenas entidades. O jeito que conseguimos foi o chamamento por meio de editais que beneficiam os projetinhos das comunidades. Foi difícil, o caminho foi longo, mas nós conseguimos, por isso acredito que vamos conseguir continuar”, simplificou Francisca.

Roselice Rodrigues, que é coordenadora de base do MIQCB Regional Pará, apontou que um dos principais desafios que a finalização desse projeto deixa é a oferta de capacitação para os representantes de entidades locais em se adequar juridicamente para se candidatar no edital. “Nós precisamos capacitar a nossa gente para que sejam capazes de propor projetinhos tecnicamente adequados ao edital, assim estarão preparados para receberem o incentivo do MIQCB”.

“Quanto mais pessoas melhor”, como reforçou a facilitadora Ana Carolina, que anotava todos os apontamentos sugeridos. Ela, que já trabalhou no MIQCB como coordenadora técnica, declarou que foi um presente ter sido convidada a retornar, agora como consultora. “Acompanhei o processo do sonho, da criação, de elaboração e agora ver o resultado disso é muito bacana. É muito satisfatório participar desse fortalecimento”.

Para encerrar, a pergunta foi simples, mas gerou uma infinidade de respostas: o que queremos para o futuro? O resultado é uníssono, as quebradeiras querem mais, as juventudes estão prontas para aprender e a equipe está preparada para o trabalho que virá.

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