Com a força da ancestralidade e o compromisso com a justiça climática, quebradeiras de coco babaçu dos territórios do Mearim e Cocais, no Maranhão, se reuniram nos dias 13 e 14 de maio, em Pedreiras (MA), para a Conferência Regional sobre o Clima do MIQCB – Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu. O encontro teve como tema “Babaçu é Clima: Quebradeiras de Coco Babaçu rumo à COP30” e reuniu lideranças de 14 municípios na sede da ASSEMA.
A atividade faz parte do processo preparatório das quebradeiras para a COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA). Além de formar e aprofundar o entendimento das mulheres sobre as mudanças climáticas, o evento teve como objetivo construir coletivamente propostas que reflitam os desafios e soluções dos territórios babaçuais diante da crise ambiental.
““Este é um momento de grande participação e construção coletiva. A Conferência é, sim, um espaço de aprendizado, mas sobretudo de fortalecimento das pautas das comunidades tradicionais. Enquanto MIQCB, entendemos que essa mobilização é essencial para consolidar propostas que expressem os desafios e as soluções dos nossos territórios. Nosso objetivo é levar essas contribuições para a Pré-COP em Brasília e incidir diretamente no documento que será entregue pelo governo brasileiro na COP30”, destacou Maria Alaides, coordenadora geral do MIQCB.
A programação teve início com reflexões sobre o que é a COP, como os acordos internacionais sobre o clima são construídos e quais são os impactos diretos para os povos e comunidades tradicionais. Sandra Regina, assessora do MIQCB, explicou os principais pontos das negociações climáticas e a importância da incidência política das quebradeiras nos espaços de decisão.
Raimundo Alves, coordenador técnico da ACESA, trouxe um panorama sobre o cenário político ambiental no Maranhão, no Brasil e no mundo. Já Ariana Gomes, secretária executiva da RAMA – Rede de Agroecologia do Maranhão, falou sobre racismo ambiental, conduziu debates sobre o clima e apresentou um grave retrato dos efeitos do racismo ambiental e do uso desenfreado de agrotóxicos no estado.
“O Maranhão enfrenta um dos piores cenários. O agronegócio usa agrotóxicos como armas químicas, envenenando comunidades com pulverização aérea, sem qualquer controle. Em 2021, em Araçá, zona rural de Buriti, um avião lançou veneno sobre a comunidade durante três dias. Uma criança de sete anos ficou com queimaduras graves ao correr para ver a aeronave. Isso é crime ambiental e é preciso responsabilizar os culpados”, denunciou Ariana.
No segundo dia, as quebradeiras mergulharam em trabalhos de grupo para debater os principais problemas ambientais vividos em seus territórios, as ações de resistência que desenvolvem, os resultados alcançados e os caminhos futuros. A construção das propostas coletivas trouxe à tona temas como desmatamento, pulverização de venenos por drones, grilagem, perda dos babaçuais e ausência de regularização fundiária.
“A importância da gente estar aqui é discutir sobre nossas vidas, sobre o ar, a floresta, os rios, os animais, a terra e tudo que está ao nosso redor. O veneno está afetando nossa produção, nossos babaçuais e nossas comunidades. Estamos sentindo o clima adoecer”, afirmou Franciene Frazão, do município de Lago do Junco.
A coordenadora executiva do MIQCB da Regional Mearim/Cocais, Maria de Fátima reforçou a importância política do encontro:
“Reunimos quebradeiras de vários municípios e percebemos o quanto esse espaço fortalece. Muitas não sabiam o que era COP e agora saem entendendo que lá se decide o nosso futuro. Enquanto nós defendemos o clima, as grandes potências e o agronegócio destroem. Nós, quebradeiras, somos as verdadeiras defensoras da floresta.”
Ao final da conferência, um sentimento coletivo de união e resistência tomou conta do espaço. Entre as falas que emocionaram as participantes, a quebradeira Maria Alba, de São José dos Basílios, deixou um chamado potente:
“Eu garanto a vocês: se nós nos unirmos, não vamos ver as matas ir embora. Porque é uma tristeza ver uma palmeira derrubada, ela não volta mais. É igual a uma mãe quando morre, a gente perde tudo. Vamos nos unir e organizar para combater a derrubada das nossas mães palmeiras.”
A atividade contou com a participação de coordenadoras do MIQCB – Maria de Fátima, Áurea Maria, Maria de Jesus e Maria Alaides – e de quebradeiras dos municípios de Timbiras, São Luís Gonzaga, Lima Campos, São José dos Basílios, Codó, Capinzal, Esperantinópolis, Pedreiras, Lago do Junco, Bacabal, Viana, Vitorino Freire, Peritoró e Lago da Pedra.
As Conferências Regionais sobre o Clima são realizadas com o apoio de diversas organizações nacionais e internacionais comprometidas com a justiça climática e a valorização dos modos de vida dos povos e comunidades tradicionais.
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