
Belém do Pará — O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) iniciou sua participação na COP30 com força, ancestralidade e incidência política. Reunindo cerca de 100 mulheres das seis regionais — Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí —, o movimento marcou presença na abertura da Cúpula dos Povos, que reúne mais de 5 mil representantes de movimentos sociais, pesquisadores, povos tradicionais, juventudes e trabalhadores de todo o Brasil e de cerca de 60 países.
A presença expressiva reafirma o protagonismo das quebradeiras de coco babaçu na defesa dos territórios, da sociobiodiversidade e da justiça climática — princípios construídos na prática cotidiana das comunidades extrativistas.
Organizada na UFPA, a Cúpula dos Povos integra a COP Popular, um espaço autônomo criado como resposta aos processos de negociação fechados que historicamente excluem mulheres quebradeiras, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, agricultores familiares e trabalhadores urbanos das decisões que afetam diretamente seus modos de vida.
Ao mesmo tempo, mesmo com equipes menores, o MIQCB segue presente na Zona Azul (negociações oficiais), Zona Verde (programação ampliada da ONU) e em espaços estratégicos na cidade, reafirmando internacionalmente que babaçu é clima.
Manhã de debates: MIQCB leva a realidade dos territórios na mesa sobre os Títulos Amazônicos no Museu Goeldi

A agenda do primeiro dia começou no Museu Goeldi, na mesa “O que Esperar dos Títulos Amazônicos?”, que debateu o novo instrumento financeiro lançado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para captar recursos destinados a iniciativas sustentáveis na região.
A coordenadora-geral Maria Alaídes destacou que nenhum mecanismo climático será eficaz se continuar repetindo a lógica de excluir os povos da floresta:

“Não existe financiamento climático legítimo quando os territórios seguem sem regularização, os babaçuais continuam ameaçados e as mulheres que mantêm a floresta viva não são escutadas. Os Títulos Amazônicos só terão impacto real se reconhecerem quem sustenta a sociobiodiversidade com trabalho, conhecimento e resistência.” — Maria Alaídes, coordenadora-geral do MIQCB.
Durante sua participação na mesa, Alaídes também aproveitou o momento para lembrar a morte brutal das companheiras quebradeiras de coco, assassinadas enquanto exerciam seu ofício tradicional. Antônia Ferreira dos Santos e Marly Viana Barroso foram encontradas sem vida no início de novembro, no polo pesqueiro do município de Novo Repartimento (PA), sudeste do estado. A coordenadora ressaltou que o crime expõe a vulnerabilidade das mulheres que dependem dos babaçuais para sobreviver
A fala rompeu a hegemonia técnica das instituições financeiras e reposicionou o debate a partir da perspectiva concreta das quebradeiras de coco babaçu, que enfrentam conflitos fundiários, violência e restrições ao acesso às palmeiras.
O MIQCB reforçou que qualquer modelo de financiamento deve garantir:
Fundo Babaçu em destaque na Casa Sul Global

Ainda pela manhã, na Casa Sul Global, o MIQCB integrou a atividade da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira. A coordenadora Marinalda Rodrigues, do regional Piauí, apresentou a experiência consolidada do Fundo Babaçu, reconhecido nacionalmente como um dos poucos mecanismos de financiamento direto às comunidades.
“O Fundo Babaçu já transformou mais de uma década de projetos comunitários em fortalecimento real das mulheres, mantendo a floresta viva e garantindo autonomia econômica nos territórios”, destacou Marinalda.
A experiência do MIQCB foi recebida como referência para modelos de governança comunitária que dialogam diretamente com os desafios socioambientais da Amazônia.
Tarde cultural no BNDES: filme, música e encenação emocionante das quebradeiras

No período da tarde, o MIQCB ocupou o espaço do BNDES com uma programação cultural potente, reunindo arte, memória e denúncia.
Foram exibidos:
Em seguida, o público se emocionou com a apresentação das Quebradeiras de Coco Babaçu ao lado das Encantadeiras, e com a encenação teatral “Da Luta à Encenação Teatral: quebradeiras de coco babaçu te contam”, apresentada pelo Centro de Formação das Quebradeiras de Coco Babaçu.
A quebradeira da Regional Baixada Maranhense, Rosa Gregória emocionou ao narrar, no palco, as violações vividas pelas mulheres nos territórios e a luta cotidiana pela preservação dos babaçuais:
“O que mostramos aqui não é só teatro. É a vida real das mulheres que enfrentam violência, expulsões, cercas e tentativas de destruir nossas palmeiras. Eu estou hoje na faculdade graças à luta do MIQCB e à força do nosso Centro de Formação. A arte é a nossa arma para denunciar e seguir resistindo.” — Declarou, Rosa.



A apresentação arrancou aplausos e lágrimas da plateia, reafirmando a centralidade da cultura como instrumento político.
Feira da Biodiversidade mostra a força econômica das mulheres

Durante todo o dia, as mulheres da Cooperativa Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB) ocuparam a Feira da Biodiversidade, na UFPA, mostrando ao mundo a potência econômica e ambiental construída nos territórios.
No espaço, foram expostos produtos da sociobiodiversidade do babaçu:
A feira se consolidou como um ambiente de diálogo com financiadores, pesquisadores e movimentos sociais, reforçando o papel das quebradeiras na bioeconomia brasileira.



Abertura oficial da Cúpula dos Povos: sem participação popular, não há justiça climática
O dia encerrou com a emocionante abertura oficial da Cúpula dos Povos, que celebrou a resistência da sociedade civil e reforçou que não existe solução climática sem quem mantém a floresta viva.
Para o MIQCB, estar nesse espaço é reafirmar uma agenda que há décadas denuncia desigualdades estruturais e aponta caminhos concretos para um clima justo.
A vice-coordenadora-geral Ednalva Ribeiro destacou:
“A COP30 é o momento de afirmar que não existe justiça climática sem justiça territorial. As quebradeiras de coco têm uma história de luta e solidariedade que precisa ser reconhecida como parte das soluções para o clima.” — Ednalva Ribeiro
Pautas centrais das quebradeiras de coco na COP30
O MIQCB apresenta uma agenda estratégica que integra clima, território e direitos das mulheres:
1. Aprovação da minuta de decreto de regularização fundiária dos territórios tradicionais
Para garantir segurança jurídica, enfrentamento da violência e proteção dos modos de vida.
2. Fortalecimento e ampliação da Lei Babaçu Livre
Marco fundamental que garante o acesso aos babaçuais e contribui diretamente para as metas climáticas brasileiras (NDCs).
3. Financiamento direto para mulheres e organizações comunitárias
Como já faz o Fundo Babaçu, reforçando que não há transição justa sem recurso nos territórios.
4. Participação efetiva das quebradeiras nos espaços de tomada de decisão
Do local ao internacional — especialmente na COP30.
Babaçu é Clima: a mensagem do MIQCB ao mundo
Com a força de 100 mulheres na Cúpula dos Povos e equipes estratégicas na Zona Azul e na Zona Verde, o MIQCB leva ao mundo a mensagem que orienta sua atuação na COP30:
“Babaçu é Clima – Mulheres quebradeiras em luta pela justiça climática.”
O movimento reafirma que defender os territórios tradicionais é, ao mesmo tempo, defender o planeta, a sociobiodiversidade e o futuro das próximas gerações.








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