10/09/2025 5:59 pm

Quebradeiras de coco do MIQCB fortalecem a 16ª Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

“Retomar territórios para tecer o bem viver” foi a chama que uniu cerca de 2 mil pessoas — indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, ribeirinhos, pescadores, camponeses, outros povos e comunidades tradicionais e aliados — no 16º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. O evento aconteceu de 20 a 24 de agosto, na Terra Indígena Taquaritiua, do povo Akroá Gamella, em Viana (MA).

O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) marcou presença com caravanas das três regionais do Maranhão — Baixada Maranhense, Mearim/Cocais e Imperatriz — que se somaram às demais comunidades para reafirmar a luta pela retomada dos territórios e pelo direito ao bem viver.

O MIQCB teve a honra de abrir a programação do terceiro dia da Teia com uma mística marcada por cânticos, danças e a espiritualidade que move o movimento. As quebradeiras também participaram ativamente da condução dos trabalhos na Casa Redonda, das rodas de conversa com as juventudes, do espaço das cantorias, da cozinha coletiva e das visitas às aldeias.

Vitória Balbina, quebradeira de coco e indígena, coordenadora executiva do MIQCB Regional Baixada disse que“receber a Teia no nosso território tem um significado muito grande. Este é um território indígena e de quebradeiras de coco, fruto de retomada e resistência, porque somos indígenas e quebradeiras. A importância está em acolher esse povo com alegria e coragem, principalmente neste território que é fruto de retomada e de resistência como o nosso. Para nós, território é saúde, é força, é resistência”, contou Vitória.

“Aqui partilhamos sementes, saberes, alimentos sem veneno, sonhos coletivos e espiritualidade. Assim como a aranha tece sua teia, nós tecemos uma força que une indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, pescadores e camponeses. Estamos muito felizes em receber tantas pessoas nesse espaço de luta, esperança e bem viver.”, concluiu, a coordenadora.

Nas vivências do território, as caravanas do MIQCB visitaram dez aldeias. Na Nova Vila, as quebradeiras receberam os visitantes com mingau de mesocarpo, bolos e biscoitos preparados a partir do babaçu, mostrando a diversidade de produtos e a importância da unidade comunitária de beneficiamento. Durante a programação, as famílias da aldeia contaram como foi o processo de luta e resistência do povo akroá gamela e como as quebradeiras de coco resistem no território.

Para Áurea Maria, coordenadora de base do MIQCB Regional Mearim/Cocais, a presença das quebradeiras reafirma o papel central das mulheres na luta por territórios livres:

,“Nossas mãos que quebram o coco também alimentam a resistência. Cada produto do babaçu carrega a nossa ancestralidade e o nosso direito de viver da floresta em pé. Estar aqui na Teia é renovar a certeza de que a luta é coletiva e de que só avançamos quando caminhamos juntas. A Teia é um espaço de partilha — partilha das lutas e também da realização do próprio encontro, que envolve desde a programação até o apoio durante o evento: na cozinha, na limpeza e nas discussões das plenárias. Tudo aqui é coletivo, tudo aqui é resistência”, frisou.

Juventude e continuidade da luta

Um dos momentos mais marcantes foi o diálogo com as juventudes, em que as quebradeiras do MIQCB conduziram reflexões sobre a continuidade da luta e a importância da formação das novas gerações.

Maria José, coordenadora executiva do MIQCB Regional Imperatriz e Secretária de Juventude do Movimento destacou a importância de espaços como a TEIA para fortalecer a luta.

“Estar hoje no espaço da Teia é para mim um motivo de muita alegria, porque a Teia é um espaço de luta e de resistência. Aqui, todos os movimentos — inclusive o MIQCB, presente com três regionais — se unem para lutar pela terra, pelos territórios e pela palmeira de babaçu em pé, que é a nossa luta diária. Quero destacar também a participação da juventude nesta Teia. Temos uma quantidade expressiva de jovens, especialmente do MIQCB, que estão contribuindo com a organização e com a programação. Eles estão se fortalecendo para dar continuidade à luta em seus territórios”, declarou.

Durante os cinco dias de programação, o MIQCB participou da coleta de assinaturas para a minuta da Lei Babaçu Livre do município de Viana e para a Lei Estadual contra a pulverização aérea de agrotóxicos, fortalecendo a luta jurídica e política em defesa da vida.

As quebradeiras também tiveram participação ativa nas falas coletivas da “fila do povo”, reafirmando a resistência diante das ameaças dos grandes projetos de mineração, portos e agronegócio.

A participação das quebradeiras de coco na 16ª Teia reafirmou o compromisso histórico do MIQCB com a defesa dos territórios e a preservação dos modos de vida tradicionais. Mais do que presença, as caravanas das três regionais levaram consigo o espírito de resistência, solidariedade e esperança — fios indispensáveis para o tecer coletivo da Teia.

Carta do 16º Encontrão

O encerramento da Teia foi marcado pela leitura da Carta do 16º Encontrão, que reafirma a retomada dos territórios como base para o bem viver, denuncia os ataques sofridos pelos povos e aponta estratégias de enfrentamento e de fortalecimento das lutas conjuntas.

O documento destaca o simbolismo do encontro no território Akroá Gamella, palco do massacre de 2017, e reforça que a retomada é resposta à exclusão, às leis colonizadoras e às ameaças do capital, do agronegócio, da mineração, dos grandes empreendimentos e das invasões religiosas.

A Carta aponta que a retomada significa também fortalecer os laços coletivos e apresenta três objetivos centrais:

  • Autonomia na educação, com projetos próprios e valorização de professores indígenas e quilombolas;
  • Combate à violência contra as mulheres, com reconhecimento e enfrentamento coletivo;
  • Valorização dos saberes ancestrais, garantindo que sejam transmitidos às novas gerações.

Os povos denunciam ainda o projeto Grão Pará Maranhão (porto em Alcântara e ferrovia até Açailândia), que ameaça seus territórios, e exigem consulta prévia conforme a Convenção 169 da OIT.

A Carta encerra afirmando que, apesar dos ataques, a união na Teia fortalece a resistência e já projeta o próximo encontro em 2026, no Quilombo Tanque da Rodagem, celebrando os 15 anos da articulação.

Leia a Carta aqui:

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